Ninguém pode saber ao certo o que se passa na cabeça de uma mulher, principalmente se ela é escritora. Pois tudo que ela sente ou pensa é oculto para os olhos nus, ela se expressa de uma maneira particular e única (quem é escritor vai entender).
sábado, 4 de janeiro de 2014
Diante ao Espelho - capitulo 2
Quatorze anos se passaram desde que Anita falecera. E como havia prometido,Cedrico cuidará e educará suas filhas com o máximo zelo.
Naquela tarde de sol raro, e os campos cheios de rosas, suas filhas tinham ido cavalgar com Oliver, um amigo muito querido pela família. O duque aproveitou-se de que não havia ninguém no castelo para ir até o rio Sena, e lá lembrar-se de sua amada Anita, e de sua morte brutal.. Tinha certeza de que, aquela imagem terrível jamais sairia de sua mente.
Elizabeth saiu da rota onde suas irmãs e Oliver estavam e foi até o rio, lá avistou o pai com sua capa cinzenta, que usava para que não o vissem: a capa era grande e muito simples, suja de poeira. Sua filha do meio aproximou-se lentamente dele, com cuidado, mas o duque a reconheceu imediatamente pelo seu perfume e pela sua forma sorrateira, sorriu e fez um sinal para que ela se sentasse ao seu lado.
- Pensando na mamãe? –perguntou ela com ar suave e sério
- Sempre penso nela..-corou, limpando algumas lágrimas do rosto – Não consegue chamar a Andrea de mãe, não é Liz?
- Não a chamo de algo que sei que ela não é..e alias ela sabe que a adoro, mas ela nunca será a Anita, nem pra mim, nem para as meninas e ..- ela segurou na mão de seu pai com delicadeza – e muito menos para o senhor.
Cedrico a olhava com profundo orgulho e mistério, tirou uma mecha de cabelos do rosto da filha e prosseguiu.
- Você não devia falar assim..se Andrea descobre...- abaixou os olhos
- Saber? Não . Sabes muito bem que não conto nada que falo com você. E alias, ela não é burra, Andrea é uma duquesa, inteligentíssima por sinal. Ela sabe que minha mãe ocupa quase todo o espaço da sua mente. – Ela o olhava de um jeito encantador, exatamente como uma filha que era fascinada pelo pai.
- Você está cada vez mais parecida com a sua mãe, e falando assim..parece que estou vendo uma outra versão dela.. –afagou-lhe os longos cabelos castanhos – está tão crescida minha pequena.
Elizabeth tocou os dedos sobre a água, e sentiu um arrepio de desejo, como se aquele lago a chamasse, de repente seus olhos e cabelos começaram a brilhar discretamente. E ela levantou-se do colo do duque.
- Pai, como foi..a morte dela? – Elizabeth olhava fixamente para o interior do rio, como se estivesse esperando alguma coisa.
- Filha..- Cedrico segurou em uma das mãos dela, respirou profundamente – Ela foi morta por um pirata, e para poupar a vida de vocês, ela pediu para que eu cuidasse de você e suas irmãs.
Com um aperto no coração, ele contou detalhes de sua historia com Anita e como foi a morte dela. Ele estava a ponto de chorar pois, era como se toda aquela cena de terror tomasse conta de sua mente, apontou para o local onde o barco a deixará, morta e coberta de ferimentos internos sérios.
Elizabeth ficou horrorizada com tudo o que tinha acabado de ouvir do pai. Por um momento, era como se Anita estivesse diante do duque, e não a sua filha. Os olhos da jovem se cobriram de ódio e revolta, e ela começou a chorar descontroladamente.
- O nome..- limpou os olhos rapidamente – eu quero o nome dele pai!
-Mas para que?
- Diga o nome agora! – seu belo rosto agora, estava coberto pela fúria, e naquele instante ela ficara realmente idêntica a mãe.
- Phil, Capitão Phil.. – disse-lhe.
- Eu já ouvi falar dele..Oliver mencionou que ele é um pirata perigoso..
- Exatamente, não vá procura-lo Elizabeth!
- A hora dele vai chegar.
Ela se levantou, vestiu sua capa para proteger-se do vento leve. Beijou o pai na testa e montou no cavalo.
- Onde vai?
- Encontrar as meninas, a essas horas Portia já deve ter mandado a frota toda atrás de mim.
Um pouco depois, no castelo. Portia estava em seu quarto se arrumando para o jantar, juntamente com a irmã mais nova, Claire. Estavam arrumando seus cabelos. A pequena meio emburrada pois, não gostava de tantos apetrechos ou coisas glamourosas..
Elizabeth entrou no quarto e mandou que as criadas saíssem do local. Como era de se esperar, ela e Claire nunca foram muito próximas, e sempre que dava, existia uma provocação pequena entre elas. Aproximou-se do espelho onde estava apequena e começou.
- Que coisa é essa no seu rosto? – sua ironia era algo apavorante, em certos momentos.
- O que? –perguntou-lhe
- Isso.. – apertou o rosto da irmã indicando para a cicatriz dela- Está um pouco estranho não acha?
- Isso, é uma obra sua! –gritou Claire – ou será que não reconhece o próprio mal?
-Bem, pelo menos, eu não fico remoendo o que aconteceu a quatro anos e não fico pelos cantos chorando feito uma tola.
-Parem já com isso, vocês duas! - gritou Portia – Será que não podem ficar um momento apenas sem remoer isso?
- Irei contar tudo pra mamãe.. – quando Claire disse essas palavras, suas irmãs trancaram a porta e chegaram mais perto dela
- Nunca, nuca mais ouse chamar a Andrea de mamãe, esta entendendo Claire? Ela não é nossa mãe, e você sabe disso. – ponderou Portia em tom severo.
- Mas eu não compreendo ..
- Não se faça de tonta comigo mocinha, na hora certa você vai saber, agora pare de drama, por favor. – respondeu Elizabeth, secamente.
Claire correu para o jardim, onde ficava quando brigava com as irmãs. Sabia que não eram amigáveis, mas por que tão severas? Deitou-se sobre a grama verde, e ficou ali..lembrou-se então da briga que tivera com Elizabeth, onde obteve a cicatriz...
“ Numa tarde de verão, Claire tinha 10 anos e Elizabeth acabará de completar 12. Realmente não eram muito unidas, Claire era muito levada quando criança. Adorava irritar as irmãs tanto Elizabeth como Portia. Certa vez, sua irmã do meio ganhou uma joia lindíssima de Andrea, que usava em dias festivos, no dia seguinte, a joia tinha sumido. Elizabeth invadiu o quarto da irmã perguntando-lhe onde ela havia colocado a tal joia, de pirraça Claire começou a dizer que ela era uma tonta e que se parecia com as meninas na plebe, e correu pelo palácio com a joia no pescoço. Elizabeth deu um grito de fúria, pegou uma navalha afiada do bolso do vestido, sem pensar direito, correu até a irmã, a mesma ria alto dela, dizendo-lhe ainda que ela parecia uma garota desengonçada. Sem pensar em mais nada,Elizabeth pulou no pescoço da irmã, o pai tentou arrancá-la de lá mas foi em vão, o ódio tomará conta da menina, Claire gritava, e Elizabeth pegou a navalha de lado e rasgou-lhe um pouco o rosto, deixando um corte profundo, porém pequeno. Afastou-se dizendo: - Nunca mais se meta comigo entendeu?!”
A jovem, continuou deitada na grama, não chorava, apenas pensava no que tinha acontecido. Ela sabia que as duas irmãs eram agressivas, e que ela própria também era, só não entendia o porque. Depois da briga com Elizabeth, Claire não a provocará tanto, só as vezes, levantou-se e seguiu até o seu cavalo.Montou nele e saiu sem que ninguém percebesse, foi andando até uma gruta que dava para o Sena, desceu do cavalo e ficou sentada em uma pedra. Ficou lá por um tempo longo...olhando algumas folhas que caíam das arvores sobre aquela água limpa, mexendo os pés, começou a cantar em tom quase tão suave como um pássaro.
De repente ela assustou-se e quase caiu da pedra, avistou um enorme navio amarronzado com partes pretas. Uma bandeira meio que escondida formando um símbolo pirata, Claire imediatamente se escondeu atrás da pedra, esperou que o navio se aproximasse um pouco mais. Então, ela viu o capitão daquele navio tão grande, já tinha ouvido falar dele, Phil. Mas nunca o vira pessoalmente. Era lindo, alto e tinha um jeito único. Estranhamente a jovem se sentiu ameaçada pela sua presença, mesmo que ele não a visse, mas não havia chances dela sair de onde estava, pois com certeza ele iria vê-la.
O navio parou e ancorou ali. Phil, desceu dele, e se encostou em uma arvore, conversava com um de seus homens..”Nossa, como ele é lindo!” pensou Claire. Ela rapidamente se moveu até o cavalo, e sorrateiramente saiu de la com pressa. Chegando no castelo, foi direto para o quarto das irmãs, ela estava eufórica.
- O que houve?! – perguntou Portia
- Eu estava no Sena pensando...quando, quando..
- Quando o que Claire?! – irritou-se Elizabeth
- O pirata que vocês falaram certa vez..eu o vi! Ele ancorou o navio perto da gruta perto daquela arvore grande!
Portia caiu da cama na mesma hora.
- Ele te viu?! –gritou-lhe
-Não...mas eu sim..não deu pra ouvir o que ele falou com um dos homens dele, mas para ter ancorado, deve ser algo sério..
Portia e Elizabeth se olharam com um certo pânico por alguns instantes, e voltaram para a irmã caçula
- Escute Claire, não comente isso com ninguém, esta bem? – disse Elizabeth com apreensão –papai ficará muito preocupado.
- Está bem, e acredito também que eu não poderei ir até o Cena não é? – ironizou ela
- Exatamente! -concluiu Portia. – Por que não vai ver o que o Oliver está fazendo?
- Por que?
- Vai logo querida. – insistiu ela.
Logo que Claire saiu do quarto, Elizabeth trancou a porta. E voltou para a cama onde Portia, com uma expressão de angustia estava.
- Você sabe por que ele voltou não é? - começou
- Sei. Ouvi rumores de que ele viria até o Sena para caçar algumas sereias..
- Isso nos choca, e nos deixa muito em evidencia! –parou e se levantou – Portia..chegou a hora de vingarmos a mamãe
- Do que está falando Liz?
- Conversei com papai hoje..ele me confirmou, Phil matou a mamãe, e pensa que nós três estamos mortas. Porque foi o que a Anita disse, ela contou que nos duas morremos, e que tinha perdido a Claire...
- Não pode ser!
- Não de uma de burra agora Portia, ele sabe que a gente não morreu, ou..está se sentindo ameaçado por alguma coisa...-ponderou ela, e prosseguiu – Eu tenho um plano.
- Lá vem você com essas suas ideias loucas..mas me diga qual é.
-Depois, - disse ela, levantando da cama, piscou o olho para a irmã e saiu do quarto.
Algum tempo depois, na mesa de jantar, Andrea notou os olhares tensos que Claire trocará com Elizabeth, bebeu meia taça de seu vinho e fez um gesto com a cabeça, na tentativa de chamar a atenção do marido. Foi em vão, pois o duque estava um tanto distraído, e não prestou atenção na esposa.
Ela então, chegou um pouco para o lado, arrumando-se na cadeira, calmamente começou com o seu comentário típico:
- Meninas, noto que estão preocupadas com algo, o que é? – disse amigavelmente.
- Ah, não é nada Andrea, coisas sem fundamento. – Respondeu Claire com um pouco de nervosismo.
Elizabeth colocou a mão no rosto, e logo voltou a comer o peru.
- É, Andrea, besteira da Claire, não liga não.
Ela e suas irmãs acabaram o jantar quase ao mesmo tempo que o pai. Quando estavam se levantavam, Elizabeth chegou perto dele e cochichou:
- Preciso falar-te.
-Está bem, me espere na biblioteca, já estou indo. – Disse ele em tom seco.
Ela caminhou com seu longo vestido de cetim arrastando nos degraus do palácio, andou até a biblioteca, abriu a porta e foi andando até uma poltrona de veludo em tom de vinho, ao lado da mesa, e lá se encostou, á espera de seu pai.
Cedrico entrou na biblioteca, sem que a filha o visse, já que ela estava de costas para a porta. E ali ficou observando-a por alguns minutos, fechou a porta e ela se virou.
- Qual é a urgência?
- Hoje a Claire viu um navio pirata.
- Onde?!
- Nas margens do Cena, - ela foi até a janela central olhando as nevoas que se formavam com o vento, - você sabe de quem estou falando, não sabe?
As palavras de Elizabeth foram como um tapa na face de Cedrico, e por uma fração de segundos ele se lembrou da morte de Anita, e da dor que sentiu ao vê-la morta.
- Phil. – suas palavras eram secas e cheias de dor. – Mas o que ele quer aqui?
- Não sei, deve ter desconfiado que eu e as meninas estamos vivas. Mas o outono está se aproximando, vou para o rio e descubro o que ele quer...
- Não! Mil vezes não! – gritou ele.
-Pai! Eu não vou morrer ta? É só uma investigação necessária, e alem do mais..você sabe que eu e a Portia somos muito mais velozes que a minha mãe. – Ela o acariciou o rosto,com um trejeito bondoso – Eu tenho um plano infalível, que o levará á morte.
- Qual é?
- Primeiro eu tenho que ter certeza do que ele quer aqui, para depois coloca-lo em ação, mas eu vou precisar do seu apoio
- Sabes que o tem, para tudo não é?!
- Sei. – ela se desligou dele, olhando para o rio ao longe. - Espero que o que ele queira, seja o que estou pensando, porque se for..ah meu amado pai...Phil estará perdido.
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